Felicidade a preto e branco.
Felicidade. Um termo que nos persegue a todos. Como Morte. E é interessante perceber como ambos os conceitos estão tão estreitamente ligados no colectivo mental da humanidade. De grande parte da humanidade, pelo menos.
E no entanto, a ligação entre estes dois conceitos pode ser tratada de forma bem diversa da usual, sendo que, ninguém escapa à morte e ninguém precisa de ser infeliz por acolher essa verdade.
Facilmente olhamos a felicidade como algo que define momentos; momentos felizes. No entanto, o contrário significa que os outros momentos na vida, e são muitos, são infelizes, o que reduz significativamente a capacidade que temos de nos deixar surpreender, de criar espaço de aprendizagem e crescimento, de ampliar o conceito de “ser feliz”. Podemos atravessar momentos difíceis, duros de gerir, complicados de entender e ainda assim não sermos … infelizes. Apenas podemos estar menos contentes, menos esfuziantes, podemos até estar profundamente tristes e mesmo nesse estado conseguimos trazer algum assomo da felicidade que já exprimimos noutras situações. Sem melancolia, apenas percebendo que só acolhendo o sombrio, o que dói, que nos perturba, podemos valorizar o seu contrário.
A mente humana funciona por contrários: conhecemos o silêncio porque conhecemos o ruído; conhecemos a luz porque conhecemos o escuro. E se atentarmos, podemos ser felizes no meio do ruído de um concerto como no silêncio de uma sala de biblioteca lendo um livro que nos envolve; podemos ser felizes numa intensa tarde ensolarada de Verão, como podemos ser felizes observando as estrelas no ponto mais escuro de um campo. A “felicidade” é um conceito, algo que só se experimenta verdadeiramente quando percebemos e aceitamos que a vida é branco e preto, duas faces de uma moeda, noite e dia, sombra e luz, Lua e Sol.
Como dizemos na Mindful Self-Compassion: Posso não estar bem, mas está tudo bem!
Esta reflexão, que faz parte das minhas inúmeras meditações, foi muito estimulada nestes últimos tempos pelo acompanhamento de pessoas que estão no ocaso da sua vida terrena e que por isso mais facilmente se deixam prender nas memórias de tempos mais felizes. E, no entanto, a doçura e a plenitude que expressam num simples “foi tão bom…” ou “fui tão feliz…”, sendo que ambas as expressões recolhem muitas marcas de sofrimento(s) demonstram que, apenas na plenitude das suas várias faces, a vida pode trazer-nos a “felicidade”.
Fui igualmente movido pela escrita do Fernando Moreira no seu livro ©”Desenmerda-te Mindset” (assim mesmo como lêem!) e que recomendo vivamente.
Do capítulo sobre a felicidade e à qual o Fernando dedica algumas das suas reflexões, retiro este texto, que faz parte de uma melodia cantada entre outros por Billie Hollyday e Frank Sinatra, e cujo título é “Glad to be Unhappy” (escrita por Lorenz Hart e Richard Rodgers). Fica no final o “link” para as duas versões. Uma mais solar, outra mais lunar
…
“Fool rush in, so here I am
Very glad to be unhappy
I can’t win, but here I am
More than glad to be unhappy”
#desenmerdateMindset#fernandomoreira#selfeditores
Fotografia ©jorgenunes

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Comments
Exxelente reflexão… é tudo isso.
Obrigado, Paula!